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Igreja do Colégio de São Lourenço

 

 

25 de setembro • Igreja do Colégio de São Lourenço, Porto

19h30 • Concerto Polifonia PortuguesaPrograma lV

 

 

A localização da igreja do Colégio de São Lourenço, na cidade do Porto – ainda conhecida por muito como igreja dos Grilos –, num patamar da colina da Sé do Porto, permite-lhe uma posição privilegiada no emaranhado da malha urbana da Cidade Invicta, o que é descompensado, no entanto, por uma certa dificuldade de acesso físico ao templo.

Na imponente fachada, edificada entre os séculos XVI e XVIII, num discurso maneirista, destacam-se o aparatoso portal de entrada, as torres sineiras com duas grandes volutas laterais e, no remate da parte central, a cartela com as armas – sobre a cruz de oito pontas – de frei Luís Álvares de Távora, bailio de Leça, pertencente à Ordem de Malta, e grande impulsionador da edificação. Ao contrário do que sucederia com o seu apelido Távora, riscado ostensivamente no túmulo ao tempo posterior à tentativa de regicídio e morte dos Távora, as armas não seriam picadas restando como um testemunho da iconografia deste apelido. Também ligado a esta personagem, o túmulo de mármore suportado por elefantes que se encontra localizado no lado do evangelho da capela-mor.

A estética observável na fachada da igreja encontra, no interior, soluções decorativas de épocas diferenciadas, que vão desde o século XVII até ao Barroco setecentista, no retábulo da Purificação e, mais tarde, às campanhas de obras identificáveis com o Neoclássico, presente em retábulos e ornamentações estucadas deste templo.

No interior, o principal destaque vai para o retábulo da Capela de Nossa Senhora da Purificação, situado no transepto do lado do Evangelho, passível de ser considerado um dos expoentes dos retábulos relicários do país. Testemunho de uma talha do reinado joanino em transição entre duas fases, a sanefa do remate é já uma demonstração de uma alteração de gosto que se anunciava. A qualidade da talha é visível em toda a construção retabular, complementando-se com a escultura de Nossa Senhora da Purificação, ao centro, e o relevo da apresentação de Jesus no Templo, na parte superior. Esta obra de talha, com concepção de António Vital Rifarto (1729), desenrolar-se-ia entre os anos de 1729 e 1730, nela tendo trabalhado os entalhadores Francisco Correia e António Pereira. O douramento do retábulo, efectuado por Pedro da Silva Lisboa, teria lugar poucos anos mais tarde, em 1733.

Intervenções neoclássicas, conjuntamente com o altar-mor, perfilam-se os altares laterais. Os retábulos, numa linguagem marcada por esta fase de uma progressiva simplificação das ornamentações, conjugam o branco e azul do fundo com o dourado dos elementos decorativos. São acompanhados ao longo da nave por composições estucadas neoclássicas, em ramalhete, que sobrepõem as arcaturas, marcando a cadência das capelas na nave única, numa tentativa última de enobrecer as artes aplicadas neste templo. Os estuques estão presentes, igualmente, em eruditas composições que adornam a cúpula do lanternim, que remata a capela do lado da epístola do transepto.

Nas pinturas salientam-se telas de pintores oitocentistas, como João Baptista Ribeiro ou, mais tardia, a de Marques de Oliveira (1882), intervenções do século XIX, que se revelam, de modo geral, pouco representativas no cômputo das obras religiosas do Norte do País.

De feição neoclássica afirma-se, também, a obra do órgão de tubos, combinando a pintura a branco e o douramento de elementos decorativos do varandim ou da própria caixa, como as urnas e os festões. A coroar o instrumento musical, perfila-se, esguia, uma águia bicéfala, numa evocação tão ao gosto do Barroco e que, entretanto, havia perdido lugar entre os motivos ornamentais escolhidos, não sendo comum na generalidade de outras manifestações da linguagem estética que caracteriza este órgão de tubos.

Na sacristia, sobressai a madeira, visível no tecto, armários embutidos, arcaz e retábulo central, contrabalançando com telas ligadas aos jesuítas ou do próprio balio Luís Álvares de Távora, inseridas em exuberantes molduras. Ainda a destacar, o lavabo marmóreo e os silhares de azulejos monocromos joaninos, que acentuam a cenografia do espaço.

Esta edificação, pela complexidade de soluções estéticas que apresenta no balanço entre o seu exterior e interior, pode bem ser considerada com um repositório de distintas estéticas, pelo que a visita a este templo permite observar intervenções desde o século XVI até ao século XX, numa multiplicidade de soluções ornamentais que aqui encontram a sua manifestação na arte portuense (GVS).

 

© 2014 por Fundação Cupertino de Miranda. Vila Nova de Famalicão

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