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Igreja do Bom Jesus do Monte

 


 

26 de setembro • Igreja do Bom Jesus do Monte, Braga

21h30 • Concerto Polifonia Portuguesa Programa lV

 

Rematando o percurso ascensional e purificador do sacro monte bracarense, que como o primeiro do seu tipo – Varallo, em Itália – agregou a reconstituição naturalista da Jerusalém celeste ao hortus conclusus medival, Carlos Amarante projectou a igreja do Bom Jesus (1784 - 1811) para o arcebispo D. Gaspar de Bragança. Substituiu uma anterior, de planta centrada, erguida por D. Rodrigo de Moura Teles e com desenho atribuído a Manuel Pinto de Vila Lobos. No mesmo local, aliás, tinham-na antecipado mais três igrejas. Uma primeira, no século XIV, dedicada ao Salvador; outra, erguida em 1494 pelo arcebispo bracarense D. Jorge da Costa e a terceira, de 1522, cuja construção é atribuída ao deão da Sé bracarense João da Guarda, de que existem ainda alguns vestígios de um portal tardo-gótico.

No século seguinte, em 1622, seria fundada a Confraria do Bom Jesus do Monte, depois de D. Frei Agostinho de Jesus ter construído, na cerca do convento de Nossa Senhora do Pópulo dos Eremitas de Santo Agostinho, ordem a que pertencia, aquela que deve ter sido uma das mais antigas vias-sacras portuguesas. Os confrades ergueram uma capela onde se venerava a imagem do Cristo Crucificado e instalações para acolhimentos dos peregrinos. Datam também dessa época uma série de nichos em que se representaram alguns dos Passos da Paixão: a Deposição da Cruz, a Deposição no Túmulo, a Ressurreição e a Ascensão. A partir de 1722, um arcebispo empreendedor, D. Rodrigo de Moura Teles, iniciou a construção, com projecto atribuído ao engenheiro Manuel Pinto de Vila Lobos, do actual santuário cuja escadaria seria rematada, como se referiu, por uma igreja de planta centrada.  

A formação de Carlos Amarante (1784-1815), filho de um músico da corte arquiepiscopal bracarense, foi a de uma autodidacta. Com efeito, os seus conhecimentos de arquitectura foram essencialmente adquiridos através da frequência da biblioteca do palácio arquiepiscopal do arcebispo D. Gaspar. Sendo assim, as suas primeiras obras como arquitecto, sobretudo de carácter doméstico, foram desenhadas para famílias bracarenses. A encomenda para a igreja do Bom Jesus - e para o jardim, ermidas, escadório das Virtudes e outros elementos do santuário - que lhes sucedeu, seria, portanto, um passo de gigante na sua carreira.

Desse modo, o Neoclássico de Amarante, estilo de que foi um dos primeiros praticantes portugueses, deve muito à tradição arquitectónica minhota. O que se patenteará de forma mais acentuada nos remates bolbosos e movimentados das torres dada igreja, mas também é visível no próprio frontispício, em que o arquitecto retoma esquemas compositivos com precedentes locais. No interior, a planimetria é também tradicional: uma planta em cruz latina, com galilé, capelas laterais na nave e transepto, colaterais ao arco cruzeiro e capela-mor rectangular. Mais inovadora, em termos de arquitectura nortenha, é a cúpula sobre pendentes, com varanda interior no arranque, que marca o cruzeiro. Nos alçados, o conceito tradicional português da espessa parede autoportante em pedra mantém-se inalterado e a ordem é coríntia, com pesados capitéis nas pilastras que assinalam os tramos preenchidos pelas colaterais. Os painéis das paredes são preenchidos por pintura ornamental que imita a brecha ou mármore da Arrábida. No transepto, cúpula e capela-mor, as pinturas e estuques com motivos vegetalistas abandonaram, sem completamente esquecer as suas formas, a delicadeza do Rococó, para assumirem uma autoconsciência pesada.

A autoconsciência será, aliás, uma das regras do Neoclássico; ela patenteia-se na imobilidade solene dos retábulos laterais, colaterais e do transepto, os primeiros de talha polícroma e pintura marmoreada em que apenas restaram alguns elementos dourados, os restantes de talha polícroma, beije e dourada. Estende-se ainda à ornamentação geral e à arquitectura e sobretudo, manifesta-se na enorme afirmação de firmitas e presença terrena do baldaquino tridimensional da capela-mor, que sucedeu às portas do céu que tinham sido os retábulos do Barroco e Rococó (JFA).

 

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