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 Igreja (Beneditina) Nossa Senhora do Terço

20 de setembro • Igreja (Beneditina) Nossa Senhora do Terço, Barcelos

18h00 • Concerto Polifonia Portuguesa Programa lll

 

A localização da igreja de Nossa Senhora do Terço na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, defronte do Campo da Feira, confere-lhe uma situação privilegiada na malha urbana da cidade de Barcelos. A entrada pelo portal setecentista, ladeado por duas cartelas de sabor ainda maneirista, não se constitui, contudo, numa particular evidência da riqueza que o seu interior encerra.

O templo, de nave única, representa a opulência ornamental atingida em muitos dos edifícios portugueses, inscritos na velha classificação das igrejas vestidas de azul e ouro, tal é a combinação entre o azul dos azulejos e o ouro da talha evidenciados, com prevalência, neste caso, para a força do azul-cobalto. A riqueza que a generalidade do reinado de O Magnífico revela de Norte a Sul de Portugal, nas ilhas e no Brasil, tem em templos com este da então vila de Barcelos, mais uma demonstração do aparato ornamental atingido, alcançando uma tal exuberância que parece querer transbordar para além das paredes da própria edificação.

No seu interior, os azulejos adquirem particular qualidade e força decorativa, recobrindo as paredes da totalidade do templo. Os diversos silhares evocam episódios da vida de São Bento, por se tratar a esse tempo de um convento feminino de religiosas beneditinas – que se haviam mudado de Monção para Barcelos –, sendo da autoria do mestre pintor e azulejador António de Oliveira Bernardes (1713), que deixou ampla obra espalhada de Norte a Sul do País. Estudos recentes vêm qualificando os seus efectivos contributos para a arte portuguesa da primeira metade de Setecentos. O programa iconográfico dos painéis, que se dispõem em andares, ao gosto de uma azulejaria de tapetes – anunciada em força desde a primeira metade de Seiscentos –, insere-se dentro de aspectos da vida daquele santo. Nas molduras que os separam sucede-se uma sequência de enrolamentos vegetalistas, expressão tão ao gosto do Barroco português. Ainda a referenciar, os painéis da capela-mor, saídos da oficina do ainda enigmático pintor “PMP”, representando cenas da fundação do próprio mosteiro das beneditinas barcelenses. Complementa o conjunto azulejar, a presença de falsas janelas realizadas em azulejo, situadas no lado do Evangelho, simulando a simetria com as janelas para o exterior, observadas no lado da Epístola, e que acompanham a fachada voltada para a Avenida dos Combatentes.

A talha destaca-se particularmente em dois locais: o retábulo-mor e o magnífico púlpito, situado na parede do lado do Evangelho, defronte para a porta de entrada lateral da igreja. Tal localização permite que nenhum visitante fique indiferente a a esta obra de arte, atribuída a Gabriel Rodrigues Álvares e justamente considerada como um dos mais relevantes púlpitos do reinado joanino. A magnificência atingida, conjuga o balcão, com a águia bicéfala coroada ao centro, e um dossel de pendor teatral, ornamentado com elementos escultóricos e outros motivos entalhados, numa expressão policroma de rara qualidade.

No retábulo-mor, impera o estilo nacional, com o seu ático decorado com arcos concêntricos cortados por aduelas, tal como sucede em muitos edifícios de todo o Portugal, evidenciando os ecos que este modelo alcançou nos mais diversos recantos do País. A talha dourada associa-se à policromia evidenciada no próprio retábulo, mas também na imaginária que o complementa, em mais uma demonstração da relevância que os jogos de luz e o próprio cromatismo desempenharam neste período.

A pintura acompanha a totalidade do tecto da nave, espraiando-se em caixotões, com a figuração de cenas da vida de São Bento. A presença de imponentes telas espalhadas pelas paredes dos lados do Evangelho e da Epístola deste templo complementa o efeito decorativo do conjunto. As pinturas encontram-se encaixilhadas por molduras de volumosa talha barroca, outro dos domínios em que a arte barroca nos legou importantes exemplares, e que nem sempre são devidamente valorizados pela historiografia, mais preocupada com a obra artística que elas enquadram.

A igreja de Nossa Senhora do Terço de Barcelos, cuja principal campanha de obras decorreu entre 1707 e 1713, impressiona quem a visita pela riqueza do seu interior, em que a exuberância ornamental contrasta até, em certa medida, com as dimensões do templo, sobretudo a largura da nave. Talha e azulejo articulam-se com a pintura das grandes telas, edificando uma das principais jóias do barroco nortenho e um dos monumentos mais expressivos da cidade de Barcelos (GVS).

 

 

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