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Igreja Matriz de São João Baptista

 

20 de setembro• Igreja Matriz de São João Baptista , Vila do Conde

21h30 • Concerto Polifonia PortuguesaPrograma l

 

A igreja de São João Baptista de Vila do Conde ou, simplesmente, a igreja matriz de Vila do Conde, apresenta uma arquitectura quinhentista, cujo portal axial manuelino, um dos mais impressionantes do período, transporta este templo, conjuntamente com alguns aspectos do seu interior, para o rol dos mais relevantes edifícios da época no Norte de Portugal. A talha dourada e a imaginária contrabalançam com a frieza granítica das três naves, se bem que o casamento entre ambas as manifestações artísticas nem sempre obtenha os melhores resultados de harmonia estética.

Na ornamentação do espaço interior, os altares e o púlpito de talha barroca alcançam particular destaque. O retábulo-mor de São João Baptista, datado de 1785 por Flávio Gonçalves, ergue-se na capela-mor quinhentista, tendo o anterior retábulo (1740-1741) – de que ainda subsistem alguns elementos – saído de uma oficina, que vem sendo atribuída, sem certezas documentais, ao importante entalhador portuense Manuel Pereira da Costa Noronha, filho do célebre entalhador Luís Pereira da Costa. A sua estruturação recorre a colunas ornamentadas com ramagens que as contornam em movimento ascendente, possuindo a decoração do ático uma articulação compositiva formal que ultrapassa já as cenográficas conjugações de fases anteriores.

Os altares colaterais, no transepto, um de Nossa Senhora do Rosário (evangelho) e outro da invocação do Santíssimo Sacramento (epístola), revelam algumas semelhanças entre si, conquanto os remates do ático sejam diferenciados, podendo ser ambos datados de meados da centúria de Setecentos.

No transepto dispõem-se duas capelas: a do lado do evangelho, dedicada a Nossa Senhora dos Anjos, e a do lado da epístola, a de Nossa Senhora dos Mareantes. Nesta última, os azulejos seiscentistas de dois padrões distintos servem de pano de fundo a um altar de talha do Barroco de estilo nacional, fornecendo um forte cromatismo ao espaço. Integrados nas paredes, dois ex-votos, um a Nossa Senhora da Boa Viagem e outro a S. Pedro Gonçalves Telmo, ambos seiscentistas, enriquecem o conjunto azulejar. Também em estilo nacional se apresenta a talha do mencionado retábulo da capela de Nossa Senhora dos Anjos, apenas com variação do ático em relação à outra capela do transepto.

Os retábulos laterais possuem, igualmente, grandes afinidades entre si, podendo ser datados do reinado joanino. A teatralidade dos remates, com sanefa e anjos, confere uma dimensão de aparato a estas obras, sendo de destacar a qualidade do entalhe e a elegância da disposição dos motivos decorativos.

Impressiona a talha volumosa do púlpito situado no lado do evangelho, que se encontra com madeira ao natural, com o balcão decorado por figuras imaginárias nos cantos e com a presença de armas nacionais ladeadas por putti. A qualidade do trabalho da madeira prolonga-se nos balaústres da escada que contorna a coluna e permite acesso ao balcão. O dossel surge rematado pela imagem de São Miguel Arcanjo, trabalho de requintado trabalho escultórico. Na sacristia impressiona a moldura de volumosa talha barroca dos séculos XVII/XVIII, composta por putti e densos enrolamentos vegetalistas.

Uma nota, igualmente, para referenciar o órgão de tubos neogótico, da autoria do organeiro A. J. Claro, natural de Braga, com decoração baseada em elementos arquitectónicos, datado de inícios do século XX, tendo sido inaugurado em 1908. Da mesma época, importa chamar a atenção para os vitrais alusivos à Última Ceia, provenientes de Bordéus, datados de 1904, e outros parisienses, com cenas da vida de S. João Baptista, de 1906.

Outro dos aspectos do interesse patrimonial de que se reveste este templo reside no pequeno núcleo museológico situado do lado da epístola, com a presença de peças provenientes de múltiplas igrejas e capelas da região. Destacam-se os acervos de prataria e paramentaria, salientando-se, sobretudo, a cruz processional executada pelo ourives da prata rococó portuense João Coelho de S. Paio (1719-1784) e a custódia de prata dourada neoclássica do convento de Santa Clara de Vila do Conde, realizada na primeira década de 1800 pelo ourives da prata do Porto António Soares de Melo (1754-1821) (GVS).

 

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