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Igreja de São Gonçalo de Amarante

21 de setembro • Igreja de São Gonçalo, Amarante

19h00 • Concerto Polifonia Portuguesa Programa ll

 

O convento de S. Gonçalo de Amarante foi fundado em 1540 por D. João III, tendo a primeira pedra sido lançada três anos depois. Como era habitual, a construção iniciou-se pelas áreas de serviço – dormitório, refeitório, casa do capítulo, claustros – inclusive porque existia no local uma antiga ermida, onde estava sepultado o popular frade dominicano. D. João III ordenou que essa sepultura permanecesse intocada, o que limitou a área de construção do convento e da sua igreja.

O primeiro responsável pela obra de que temos notícia é o dominicano frei Julião Romero, provável autor do projecto de uma primeira igreja. Esta seguia o tradicional plano mendicante de três naves e, possivelmente, cabeceira tripla. Porém, após a chegada do arcebispo Frei Bartolomeu dos Mártires de Roma em 1564, esse projecto viria a ser abandonado, em favor de uma planimetria mais adequada às novas orientações tridentinas. Os trabalhos, porém, arrastaram-se por razões que ao certo desconhecemos mas podem ter estado relacionadas com a atenção que o arcebispo Frei Bartolomeu dos Mártires, que era dominicano, concedeu ao novo convento da sua ordem em Viana de Castelo e, ainda, a possíveis problemas financeiros que se reflectiram numa aparente desertificação do convento. Na verdade, apesar de uma boa parte da sua área de serviço estar concluída desde 1554, ela era povoada por um número diminuto de frades.

Assim, só com Filipe I a obra da igreja arrancou definitivamente, no ano de 1581. Para o novo monarca, essa seria sempre uma boa atitude de relações públicas, dada a extrema popularidade do frade construtor de pontes, beatificado em 1561. Saliente-se ainda que no ano seguinte, 1582, o arcebispo Frei Bartolomeu abdicou da sede arquiepiscopal e retirou-se para o convento de Viana, o que pode não ter sido uma coincidência. Desse modo, e no seu essencial, a actual igreja seria construída pelo mestre portuense Manuel Luís entre 1581 e 1585, embora viesse apenas a ser concluída no século XVII. Mateus Lopes, Gonçalo Lopes, Pedro Afonso de Amorim, João Lopes de Amorim, Domingos de Freitas, que em 1641 abobadou o transepto e ergueu a cúpula, e Manuel do Couto, que, entre 1681 e 1686, concluiu os dois registos superiores do portal principal e abriu a designada Varanda dos Reis, seguiram-se a Manuel Luís.

A implantação do túmulo do santo, numa escarpa junto ao rio, obrigou a grandes trabalhos de terraplanagem e, em consequência disso, a fachada axial ficou a poucos metros do monte. A parede sul da igreja, voltada ao Tâmega, teve, portanto, que substitui-la como fachada principal. Talvez por essa razão, forma um conjunto estranho no panorama da arquitectura religiosa minhota: o pórtico, em cujo nível superior, obra de Mateus do Couto, espreitam já as colunas torsas do barroco português, recorda as fachadas das casas quinhentistas flamengas, igualmente organizadas em corpos sobrepostos, articulados e divididos em vários tramos por colunas. Quanto à Galeria dos Reis, à sua esquerda, é uma loggia palaciana, aberta no cimo da parede que ocultou os pesados contrafortes laterais da igreja.

No interior, é notório que se procurou obter a clareza espacial pretendida pelas directivas pós-tridentinas, com planta em cruz latina de nave única, capelas colaterais, cruzeiro do transepto inscrito com cúpula e capela-mor rectangular. Esse experimentalismo, porém, aliado ao facto de se tratar de uma adaptação do plano de uma igreja anterior, colocou alguns entraves e a síntese espacial desejada não foi plenamente conseguida. O transepto, por exemplo, tem uma escala que não se adapta completamente ao resto da igreja. Também é notório que o mobiliário litúrgico não é uniforme, tendo sido colocado ao longo de mais de um século. Assim, as capelas colaterais abrigam retábulos de diferentes épocas, maneiristas e de estilo nacional. Na capela-mor, cujo arco cruzeiro é precedido por duas monumentais colunas, com o detalhe anticlássico de se rematarem por mísulas, o retábulo-mor é de talha joanina, datando da década de trinta do século XVIII e, à sua esquerda, encontra-se a entrada para a cripta subterrânea onde está sepultado o santo padroeiro (JFA).

 

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