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Mosteiro de São Martinho de Tibães


 

21 de setembro • Igreja do Mosteiro de São Martinho de Tibães, Braga

18h00 • Concerto Polifonia PortuguesaPrograma ll

 

 

Há notícia da existência, na zona de Tibães, de um mosteiro fundado no século VI por S. Martinho de Dume. Esse cenóbio seria reconstruído no século XI e, em 1110, os condes D. Henrique e D. Teresa concederam-lhe carta de couto; apenas por essa época os monges terão adoptado a regra beneditina. Com a reforma da ordem, Tibães passaria, em 1567 e por bula do papa Pio V, a ser a casa-mãe da nova Congregação de S. Bento, não apenas para o território português mas também para o Brasil. Nas primeiras décadas do século seguinte seria empreendida a reforma dos edifícios conventuais, incluindo a igreja que sucedeu ao antigo templo românico.

A igreja de Tibães, erguida entre 1628 e1661 com traças de Manuel Álvares e Frei João Turriano, tem uma irmã mais velha, também bracarense, a do convento de Nossa Senhora do Pópulo, iniciada em 1596. Se quisermos levar mais longe o parentesco, podemos assinalar-lhe também S. Gonçalo de Amarante e S. Domingos de Viana. No exterior, mostra o mesmo tipo de contrafortes que a igreja dos Eremitas bracarenses, no interior a mesma concepção de ininterrupta continuidade espacial entre a nave e a capela-mor. A ordem jónica das colunas e capitéis, porém, tem antecedentes nas igrejas dominicanas de Viana e Amarante, bem como a planta em cruz latina, embora já sem as hesitações espaciais amarantinas. A isso podemos acrescentar uma particularidade beneditina: as grandes dimensões da capela-mor. Na fachada maneirista de corpos sobrepostos, com as janelas termais de iluminação marcando o centro do segundo nível, as duas entradas laterais da galilé original viriam a ser encerradas, ainda no século XVII, por o frontispício ameaçar ruína.

Assim, a igreja de Tibães é uma etapa no processo de longas durações que marcou a arquitectura do Entre-Douro-e-Minho e, também, um importante repositório de talha e escultura seiscentista e setecentista. Nota-se, actualmente, a falta do azulejo, que completaria a obra de arte total de que fala Robert C. Smith; ele, porém, existiu, tendo sido colocado em 1668 e posteriormente retirado durante as intervenções setecentistas. Se, na nave, o retábulo de Santa Gertrudes (1661), obra de Frei Cipriano da Cruz, é ainda maneirista, os restantes, que se exibem nas capelas colaterais, são já barrocos. O mesmo escultor e imaginário beneditino seria o desenhador de alguns deles, bem como de muita da escultura e imaginária que mostram.

Na nave da igreja e na capela-mor, aumentada em 1752, surgirão depois as sanefas, púlpitos e sobrecéus, molduras de frestas, um órgão, o altar do Crucificado no coro alto e um retábulo já rococós. Essas peças devem-se, fundamentalmente, à colaboração estreita entre dois grandes nomes da arte nortenha da segunda metade do século XVIII: o arquitecto André Soares, que aí projectou e trabalhou entre 1750 e 1760 e o escultor, imaginário e entalhador beneditino Frei José António Vilaça, activo na igreja entre 1750 e 1784. Será, porém, na capela-mor, espaço apropriado, juntamente com o do coro alto, para o solene e lento desenrolar da complexa, triunfante e quase ininterrupta liturgia beneditina, que a concentração de ouro se adensa mais, no retábulo-mor, nas cadeiras, nas molduras e sanefas.

Em Tibães, como em S. Vítor, todas as regras são quebradas, ao fazer-se um Rococó à maneira barroca, denso e monumental, pesado e hierático. Ele marca uma óbvia diferença para com a delicadeza evanescente do rocaille europeu que o inspirou; com a arte de Vilaça e Soares, não é, de certeza, a terra que chega ao céu, mas este que continua a escorrer, juntamente com o ouro em lava dos retábulos, para junto dos homens (JFA).

 

 

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