top of page

Igreja de São Francisco

 

19 de setembro • Igreja de São Francisco, Porto

21h30 • Concerto Polifonia PortuguesaPrograma lll

 

 

A localização do convento de São Francisco no casco urbano da cidade do Porto, numa posição privilegiada quase sobranceira ao rio Douro, valoriza o enquadramento deste monumento de origem medieval, objecto de sucessivas intervenções ao longo das centúrias, num largo período que vai de Quatrocentos a Oitocentos.

A escadaria que hoje permite o acesso ao portal de entrada da Igreja Monumento, como actualmente surge designada, bifurca para as entradas da Casa do Despacho e para a neoclássica igreja dos terceiros franciscanos. Este templo assume-se com um programa ornamental assumidamente neoclássico, num contraste evidente com as linguagens estéticas da Igreja-Monumento e da Sala das Sessões da vizinha Casa do Despacho.

Logo no patamar superior, o portal barroco de São Francisco, inserido na estrutura gótica do templo, permite um contraste de estilos, nem sempre harmonioso, observável numa leitura geral das distintas artes aplicadas no edifício.

A magnificência desta igreja resulta da composição entre a arquitectura medieval e as diversas obras de talha nela levadas a cabo, em sucessivas campanhas setecentistas. Intervenções renascentistas, presentes na zona das capelas colaterais, em elementos arquitectónicos que o tempo poupou, acentuam a diversidade de estilos identificáveis.

Na cidade do Porto, esta erupção de talha, solução ornamental da maioria das principais igrejas da urbe, apenas encontra obra à altura na igreja do convento de Santa Clara, situada na parte alta da cidade. Neste templo observamos uma maior unidade e equilíbrio, matizado pelo absoluto horror vacui da obra, que se traduz num revestimento total do templo da madeira entalhada e dourada, da primeira metade de Setecentos. Mas poder-se-ia aludir a diversos outros edifícios religiosos favorecidos pela elegância da talha, que os fartos recursos setecentistas permitiram concretizar.

Voltemos a São Francisco. A rosácea gótica, permite coar, através da sua polifonia cromática, a luminosidade que incide sobre as naves do templo, exacerbando os efeitos de claro-escuro. O efeito do conjunto é altamente impactante, pela massa áurea que a talha deixa percepcionar, numa impressão que não deixa indiferente o visitante. 

No lado do evangelho, somos logo seduzidos pela obra de talha do retábulo de Nossa Senhora da Rosa, que enquadra o fresco medieval que lhe dá o nome. Na cadência do ritmo da talha, segue-se a elegância do retábulo da portentosa Árvore de Jessé. Saído da oficina de Filipe da Silva e António Gomes, com o contributo do escultor Manuel Carneiro Adão, de Braga, nele se projecta o cromatismo da policromia das vestes dos antepassados de São José, que remata superiormente o conjunto escultórico.

Demonstração máxima da elegância da escola da talha do Porto, as portas rococó da Capela de Nossa Senhora da Soledade (1764), situada no lado da epístola, espraiam-se qual rendilhado da madeira entalhada e dourada. A arte de um dos principais entalhadores portuenses do Século das Luzes, Francisco Pereira Campanhã, ganha uma notória expressividade neste retábulo, realizado entre 1764 e 1765. E as grades, no conjunto, assumem um papel primordial, catapultando-as para uma dimensão nacional pela erudita interpretação e graciosidade do efeito estético que provocam.

Outras obras a destacar são, no braço Sul do transepto, a Capela dos Carneiro, e, no lado da epístola, o retábulo dos Mártires de Marrocos, da responsabilidade de Manuel Pereira da Costa Noronha, com a representação relevada dos Mártires no Japão na parte superior; ou, ainda, os dois púlpitos com a heráldica franciscana na tribuna e o seu dossel com elaborada cartela.

As colunas que separam a nave central das laterais, recobertas de talha, que se dispõe qual hera envolvendo este elemento arquitectónico, criam um efeito que acentua a verticalidade do eixo. Aqui ou ali, a pintura ornamental ensaia a imitação de pedraria, nomeadamente os mármores de diversas tonalidades.

Em vários pontos da igreja dispõem-se representações heráldicas de algumas das principais famílias nobres do burgo, como os Sá ou os Brandão, que escolheram este templo para as suas capelas. E deixaram os seus símbolos familiares, essencialmente em escudos de armas entalhados e dourados.

Se o essencial da mensagem estética cristã impelia à ideia de que Para Deus o Melhor, então as sucessivas gerações dos frades franciscanos portuenses foram extraordinariamente felizes no cumprimento deste princípio (GVS).

bottom of page